COMPARAÇÕES INTERNACIONAIS – armas, saúde, educação e ciência

O RDH, Relatório de Desenvolvimento Humano, é um mundo de informação estatística fornecida pelos estados, isenta e por isso confiável.

No meu artigo “Mortos em guerras ao longo do tempo” já tinha aflorado a incongruência das despesas militares efetuadas pelos países pobres em contraste com as suas despesas em educação e saúde. Agora decidi mostrar a relação entre essas despesas e as despesas em investigação científica. Como podemos ver na tabela abaixo, os países desenvolvidos melhoram o seu desenvolvimento ao investirem em educação, ciência e tecnologia ao mesmo tempo que gastam pouco em despesas militares.

Note-se que não são comparações entre valores absolutos em euros ou dólares, mas os valores das despesas em relação àquilo que é produzido em cada país, PIB, só assim são comparáveis para podemos fazer este tipo de análises.

Selecionei alguns países e agrupei-os segundo as suas afinidades em algumas despesas, e por último a média dos grandes agregados de países apresentados no RDH.

Dois países saltam à vista, a Irlanda que gasta cerca de trinta e três vezes mais em educação e saúde do que em despesas militares, em situação oposta está a Arábia Saudita com os maiores gastos relativos em despesas militares, as suas despesas em saúde e educação pouco ultrapassam as despesas militares e com despesas em ciência quase sem significado.

O primeiro grupo de países selecionados, não belicistas, são os que mais gastam em saúde e educação e que se preocupam mais com a investigação científica, o que lhes permite desenvolverem-se mais depressa do que a generalidade dos países do mundo. O segundo grupo, os países belicistas, ao aplicarem verbas avultadas na área militar ficam sem capacidade de investirem nas áreas que os permitiriam desenvolverem-se mais e darem melhores condições de vida à sua população. Portugal está numa situação intermédia nos três tipos de despesas.

O egoísmo e o instinto primitivo de domínio não deixam que a espécie humana caminhe no sentido do seu bem-estar geral e desenvolvimento colectivo. As suas elites sedentas de poder põem em causa a sua própria espécie, bem como toda a vida na Terra, quer seja através das guerras, quer seja pela utilização desequilibrada dos recursos naturais. Por exemplo, o petróleo levou muitos milhões de anos a formar-se no interior da Terra, mas está a ser gasto em pouco mais de um século.

É anacrónico que existam países cuja população vive em absoluta miséria, mas ao mesmo tempo gastam grande parte do seu rendimento em armamento para manterem guerras fratricidas.

Se o dinheiro gasto em guerras fosse utilizado em produção alimentar não existia fome neste planeta. Quantas alfaias agrícolas poderiam ser produzidas com o aço que é utilizado para o fabrico de armamento? Com o dinheiro das cidades destruídas quantas crianças mais poderiam ir à escola? Com o custo de um submarino atómico quantos hospitais se construiriam?

Daniel Graça

16/03/2020

https://postal.pt/opiniao/2020-03-31-Comparacoes-internacionais—as-despesas-militares-saude-educacao-e-ciencia

O ENSINO

O sistema de ensino em Portugal é teoricamente bom, na prática tem falhas como qualquer outro. As escolas têm interações com diferentes estruturas da sociedade como as câmaras municipais, o ministério da educação, sindicatos dos professores, sindicatos da função pública, associações de pais, fornecedores e alunos. Têm que ser geridas por pessoas muito competentes a todos os níveis, com capacidade de tomar decisões atempadas, o que nem sempre se verifica, como em qualquer outra profissão. A gestão das escolas deriva de uma forte participação da comunidade escolar, embora possa existir, aqui ou ali, lóbis de interesses com caracter partidário. Se a nomeação dos diretores escolares fosse da responsabilidade do poder autárquico creio que seria muito mau, creio que todos nós fazemos uma ideia do que aconteceria.

Os professores são colocados por concurso nacional, o que dá boas garantias de homogeneidade nacional e de independência dos poderes locais ou partidários, se alguma vez forem colocados pelas câmaras municipais, então serão prevalecentes a orientação dos núcleos locais dos partidos políticos, dos laços familiares e das amizades.

Houve uma época de falta de trabalho, por isso houve muita gente que foi para o ensino sem qualquer vocação para tal, por isso penso que é necessário orientar os alunos na sua carreira estudantil e é necessária uma prova vocacional eliminatória para entrar na profissão de professor, quem não tiver vocação não entra para a carreira.

Após o 25 de Abril acabaram com as escolas industriais e comerciais necessárias para as profissões técnicas e ainda hoje não se faz a orientação vocacional dos jovens, criaram os cursos vocacionais que deixam muito a desejar. Se um jovem não gosta de História, Literatura, línguas estrangeiras ou matemática, porquê obriga-lo a estudar isso? O resultado é que o aluno reprova ou desiste da escola e o Estado anda a gastar dinheiro inutilmente! Quem tem vocação para mecânico nunca será um bom médico!

Nas eleições legislativas de 2015 o PS prometeu que, até 2020, todas as crianças iriam para o ensino pré-escolar. Falso, em vez de aumentar a quantidade de estabelecimentos de ensino pré-escolar, têm diminuído como mostra a tabela. A baixa taxa de natalidade não justifica esta diminuição de estabelecimentos pré-escolares porque todos sabemos que existem inúmeras crianças que não frequentam este tipo de ensino porque não há oferta.

Quando o dinheiro não chega para tudo, o melhor é reformular as prioridades.

Há muita gente na política que ainda não percebeu que o respeito só se constrói com competência e honestidade.

Prometem tudo excepto a verdade!

Daniel Graça

14/03/2020

https://postal.pt/opiniao/2020-03-24-O-ensino

As nacionalizações

Em 1975 apoiei as nacionalizações que então existiram. Muitas foram um erro.

Naquela época eu trabalhava num banco, vi e ouvi muitas coisas lá dentro, como promover pessoas a diretores mas sem haver funções para desempenharem. Vi entrarem pessoas para lugares de chefia só porque tinham sido assessores de ministros, apesar da sua pouca idade. Em situações de reivindicações ouvi dizer muitas vezes que se o banco tivesse prejuízo não fazia mal porque o Estado punha o dinheiro que fizesse falta. Assisti a ‘ultrapassagens’ em concursos internos só porque os cartões de certos partidos tinham uma ‘côr muito bonita’, as células locais dos partidos dividiam entre si lugares e promoções.

O estado nacionalizou mas não criou um sistema de auditoria para verificar se existia uma boa gestão empresarial.

Contactei durante vários anos, por motivos de serviço, com um certo serviço da Junta do Crédito Público do Ministério das Finanças, onde me eram narradas situações iguais. Ouvi dizer o mesmo de várias empresas que tinham sido nacionalizadas. Conheci um gestor público que nessa altura já tinha levado seis empresas à falência e a empresa que estava a gerir já ia pelo mesmo caminho, “eram empresas públicas não fazia mal”.

Há poucos dias dizia alguém altamente responsável que se o Estado não tivesse entrado no capital da TAP, agora os passageiros levavam com os preços mais altos. Eu digo que os portugueses levaram com os custos diretos dessa entrada no capital e quando a empresa deixar de ser rentável, por motivos internacionais, os privados deixam a empresa e o Estado que fique com ela, os portugueses que se ‘xaringuem’ com os impostos, como dizem os algarvios da parte do Algarve que ainda é algarvia.

É estranho que se celebrem parcerias público privadas que dão prejuízo para o Estado e que continuem, mas por outro lado termina-se com a PPP da saúde em Vila Franca de Xira que tem dado lucro e, segundo dizem, a funcionar bem.

O Estado não tem vocação empresarial, deve deter apenas algumas empresas para garantir o fornecimento de bens ou serviços não produzidos pelo setor privado e que sejam essenciais à comunidade. Uma grande empresa deve ter autonomia financeira e não estar à espera que os investimentos necessários sejam aprovados pela tutela e as verbas necessárias inscritas no orçamento do estado à espera que seja aprovado. O financiamento é uma necessidade diária e deve estar disponível ou quase disponível sem as burocracias próprias do Estado.

A minha experiência de vida leva-me a crer que alguns partidos estão interessados que existam empresas públicas apenas para garantirem empregos para os seus militantes mais destacados.

Foi por tudo isto que deixei de apoiar a realização de nacionalizações.

Daniel Graça

18/01/2020

https://postal.pt/opiniao/2020-03-16-As-nacionalizacoes

PIB per capita

O PIB per capita é a média, por pessoa, da produção nacional que se obtém dividindo o PIB pelo número de pessoas residentes no país, como se todas as pessoas ganhassem o mesmo em todo o país durante um ano. Não é o ordenado médio em cada país, esse é outro valor. Trata-se apenas de um indicador que só serve para fazermos comparações internacionais. Como nós sabemos, se forem dois amigos a um restaurante, se um comer um frango e o outro não comer nada, em média comeram meio frango cada um.

O PIB pc é a relação entre o nível de produção e a população, pelo que a dimensão do país não importa, o que influi decisivamente é a produtividade e a competência dos governos para reestruturar a economia e impor uma melhor distribuição primária do rendimento entre os factores produtivos capital e trabalho.

Na tabela abaixo, podemos ver que Portugal e a Grécia têm um PIB pc muito inferior à média da EU, apesar de tudo, a Grécia com um PIB pc inferior a Portugal tem um salário mínimo de 683 €. A Irlanda teve um resgate ao mesmo tempo que Portugal e a Grécia, mas tem um PIB pc que é mais do dobro, pelo que tem salários mais altos e um nível de vida que não se compara. A diferença é resultante da produtividade motivada pelo apoio ao pequeno investimento, esse apoio não envolve dar subsídios, mas tão somente não torpedear, quem quer ter iniciativa, com múltiplas licenças que chegam a levar anos para serem concedidas e cobrança de taxas e impostos mesmo antes do início de actividade.

Por outro lado, temos um grupo de países onde o PIB pc é irrisório. Arrepio-me de pensar que aquelas pessoas vivem com cerca de dois euros em média por dia, porque na realidade a maior parte da população não ganha um euro por ano! Basta saber como vive a população na Guiné e comparar com o Burundi. Naqueles países existem algumas empresas e fortunas, surgidas em pouco tempo, que arrecadam toda a riqueza criada no país e que a seguir é colocada nos bancos da Europa, onde é utilizada para criar mais riqueza em vez de ser investida nos países de origem para os desenvolver e resgatar a população da miséria. É a contradição entre os interesses pessoais e os interesses do país neste modo de produção em que vivemos.

Não é por mero acaso que existe emigração maciça para os países ricos.

Os países pobres fazem um esforço titânico para os seus jovens serem formados nas universidades dos países ricos, mas depois são poucos os que regressam para ajudarem a desenvolver os seus países de origem, estes fazem a despesa, mas não têm o proveito do seu esforço.

Há estudos, desde há muitos anos, que mostram a discrepância do nível de vida entre países pobres e países ricos. A ONU e algumas das suas agências, apesar de apontarem soluções, não têm força para obrigar à implementação de políticas de correção da situação porque são os países ricos que mais contribuem financeiramente para a sua existência, no dia que deixarem de contribuir acaba a ONU. Essa ameaça tem existido por parte dos EU, só não aconteceu ainda porque a sede é em Nova Iorque e as verbas das contribuições de todos os países são gastas lá.

São muitos os mecanismos que conduzem à reprodução da pobreza. A riqueza reagrupa-se continuamente nas mãos de poucos, quer ao nível nacional quer ao nível internacional.

As elites políticas e económicas não abdicam de ser elites mesmo que tenham que escravizar a maior parte da humanidade. A consciência só existe na cabeça dos pobres!

Daniel Graça

24/02/2020

https://postal.pt/opiniao/2020-03-04-PIB-per-capita